Sobre pássaros, sinapses e ervas energéticas

O Museu de Arte de Santa Catarina (MASC, Florianópolis) exibe “Sobre pássaros, sinapses e ervas energéticas”, uma exposição de Walmor Corrêa (1961-) com curadoria de Paulo Miyada (1985-). 

 

A mostra é uma retrospectiva da carreira do artista, perpassando as várias temáticas presentes em suas composições, como a questão da biodiversidade e o elo entre arte e ciência. No museu estão expostas suas obras nas técnicas de desenho, escultura, instalação e pinturas. 

 

Através da arte, Walmor Corrêa transparece seu universo extraordinário desenvolvido a partir da mescla de fauna, flora, lendas e do folclore brasileiro. Utilizando estudos anatômicos, influenciados pelas obras de Leonardo da Vinci (1452-1519), o artista produziu estruturas corpóreas de seres híbridos fantásticos. 

 

A mostra foi inaugurada no dia 14 de julho de 2022 e permanecerá para a visitação gratuita no MASC até 18 de setembro de 2022. O horário de funcionamento do museu é de terça à domingo, de 10h às 21h. 

’Ipupiara’, Walmor Corrêa, 2005.

No ano de 2004, Walmor Corrêa (1961-) apresentou pela primeira vez a série “Catalogações” ou “Apêndices” na 26ª Bienal Internacional de São Paulo. As composições, iniciadas em 2003, consistem em 16 pinturas anatômicas retratando 10 seres híbridos e 6 esqueletos destes. 

 

A partir do livre-arbítrio do artista para a construção do formato de seres fantásticos, Walmor Corrêa associa ciência e ficção, além de discutir cultura e natureza, já que grande parte das obras apresentam tipos do imaginário popular brasileiro. 

 

Aludindo aos manuais de história natural dos séculos XVIII e XIX através do grafismo e aos atlas de anatomia com a estruturação dos desenhos, “Unheimlich” tratou de evidenciar animais cientificamente irrealizáveis, opondo justamente a realidade do estudo acadêmico à liberdade imaginativa. 

 

O livro intitulado “Unheimlich” (“Arrepiante”, tradução livre), que une toda a coleção das composições irreais do artista, faz referência ao termo utilizado por Sigmund Freud (1856-1939), ao tratar da estranheza causada por novas interpretações do conhecido.

’Cachorra da Palmeira’, Walmor Corrêa, 2005.

Alicerçado no lúdico, Walmor Côrrea (1961-) excede a cientificidade ao trabalhar com a biodiversidade. Detalhadas, as composições do artista que perpassam a fauna e a flora contêm particularidades quase nunca percebidas à distância ou com olhares distraídos. 

 

Inspirado pelos relatos de viajantes dos séculos XVI e XVII, Walmor Corrêa apresenta um universo fantástico de seres que muito poderiam vir das crenças populares, mas partem diretamente do imaginário do artista. 

 

Compondo suas obras com descrições, estas podem ser confrontadas com antigos tratados de botânica ou anatomia, contudo, sem a necessidade de um amparo científico para a materialização de seus inventos. 

 

Contra toda a tangibilidade do conhecimento, as composições de Walmor Corrêa rompem com o óbvio e instigam o público a percorrer passado e presente, entre os períodos de crença nos seres fantásticos e a dúvida de suas permanências. 

Sem título, Walmor Corrêa, 2021.