34ª Bienal de São Paulo

A Bienal de Arte de São Paulo é uma mostra de arte que ocorre a cada 2 anos desde 1951. É considerada um dos principais acontecimentos artísticos no cenário mundial, sendo o pavilhão que abriga as edições desde 1957 projetado por Oscar Niemeyer (1907-2012), um dos mais destacados nomes da arquitetura moderna brasileira. A 34ª edição da Bienal de São Paulo intitulada “Faz escuro mas eu canto” faz referência a um verso do poeta Thiago de Mello (1926-). 

 

 

Composta por 3 enunciados (‘Meteorito do Bendengó’, ‘Os retratos de Frederick Douglas’ e ‘O sino de Ouro Preto’), a Bienal aproxima a representatividade de tradições seculares ao redor do mundo. Ainda, perpassa por questões sociais, políticas, figuras históricas e artefatos memoriais, resgatando resistências, sobrevivências, simbolismos e culturas dos povos indígenas e afro-brasileiros. Para tal, a exposição é composta de telas, esculturas, fotografias e gravuras de artistas que através da manifestação artística apresentam linguagens e reafirmaram percepções culturais

 

 

Ametista transformada em citrino pelo calor do incêndio de 1018 no Museu Nacional do Rio de Janeiro.
Meteorito Santa Luzia, sobrevivente do incêndio de 2018 no Museu Nacional do Rio de Janeiro, descoberto em 1921.

Com o enfoque nas narrativas artísticas dos povos originários e afro descendentes, a 34ª Bienal de São Paulo apresenta um olhar crítico sobre os resquícios coloniais presentes nessas sociedades ainda hoje. Assim sendo, 2 artistas presentes na exposição evidenciaram a importância de se debater o assunto, principalmente sob uma perspectiva decolonial: Jaider Esbell e Daiara Tukano.

 

 

Jaider Esbell (1979-) nasceu na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. Suas obras buscam resgatar o imaginário indígena dos contos e mitos, ao mesmo tempo em que escancara o descaso com o meio ambiente e expõe sua insatisfação com as práticas da primazia branca no país. Porém, o tom politizado e crítico de suas obras de maneira alguma ofuscam a beleza de suas criações que, de maneira contemporânea, exibem a manutenção da conexão secular dos povos indígenas com a natureza.

 

 

 

Daiara Tukano (1982-) nasceu em São Paulo quando seus familiares lutavam pelos direitos indígenas inexistentes no país até a Constituição de 1988. Dessa maneira, a ativista pertencente ao Povo Tukano decidiu evidenciar a ancestralidade das tradições indígenas através de obras criadas com o auxílio do Ayahuasca, planta medicinal presente em rituais milenares. Nesse contexto, Daiara busca desagregar o sentido comum da arte ocidental, considerando suas obras mensagens místicas e críticas, tratando, por exemplo, do etnocídio de seus povos e da perda de tradições devido ao extermínio da natureza.

'Entidades', Jaider Esbell, Bienal de São Paulo, 2021
'Espelho da Vida', Daiara Tukano, 2021, plumaria e espelho convexo.

Integrando o debate a respeito da presença negra nas sociedades, Frederick Douglass e seus retratos foram selecionados para compor um dos três ensaios propostos pela 34ª Bienal de São Paulo. Abrindo espaço para a discussão a respeito da autorrepresentação e da influência da fotografia no espaço coletivo, a Bienal traz o protagonismo dos marginalizados. Dessa maneira, a proposta curatorial incentiva o questionamento a respeito das percepções coletivas, dos simbolismos e da visibilidade dos negros, principalmente no Brasil, no decorrer das décadas. 

 

Frederick Douglass (1818-1895) foi um fotógrafo, escritor e abolicionista nos Estados Unidos. Considerado o norte-americano mais fotografado do século XIX, Douglass utilizou de seus retratos justamente para desmantelar os preconceitos criados pela sociedade. Expondo justamente a parcialidade das pessoas brancas ao reproduzir antecipadamente os estereótipos dos negros, e não o indivíduo, o artista buscou a afirmação da visibilidade dos afrodescendentes a partir do impulso à circulação de imagens. 

 

 

Vista geral dos retratos de Frederick Douglass, 34ª Bienal de São Paulo, 2021.
Vista geral dos retratos de Frederick Douglass, 34ª Bienal de São Paulo, 2021.